BEIJO NOTURNO (EXERCÍCIO DE ARGUMENTAÇÃO)

INTRODUÇÃO: Apresentar o texto argumentativo nem sempre é uma das tarefas mais fáceis nas aulas de Língua Portuguesa, porém podemos introduzir a opinião de nossas alunas e de nossos alunos por meio da estrutura de comentário. A tarefa é simples: escolha um texto e peça para eles analisarem justificando sua opinião com pelo menos um argumento a favor e outro contra. Use uma postagem em redes sociais ou em um aplicativo de mensagens instantâneas. Em nossa prática educacional, utilizamos a crônica de nossa autoria publicada na pagina Caminho Poético e repostada aqui. Abaixo, nos comentários, as respostas integrais dadas por nossos estudantes de 9º ano.


Beijo Noturno

Ainda me lembro da história como se fosse minha.

Lembro-me que era uma menina magricela que escolhera de bom grado morar com os padrinhos. Para muitos uma decisão extremamente adulta, afinal era uma casa estranha, com pessoas estranhas. Mas escolheu desta forma uma família que não era assim tão sua. E ficou no litoral quando o resto de sua família partiu para o agreste paraibano.

 Seu padrinho, sujeito bronco e de poucas palavras, que quando não resmungava e dava reclamões, usava um chicotezinho trançado de boi, vendia roletes de cana. Eram caules de cana de açúcar raspados com a peixeira a fim de retirar a casca que os recobria. O caule nu era cortado em rodelas e várias delas eram atravessadas por espetos de bambus, tal quais as varetinhas que com que se fazem os churrasquinhos de gato de hoje.

            Certa noite o padrinho sentenciou: “Vai em casa, Eliane, buscar mais espetinhos para os roletes!” Ela sabia que não adiantava contestar, porque era palmada na certa, nem adiantava apelar para a madrinha: era submissa por demais ao marido. O jeito era enfrentar as bananeiras.

Deixa eu explicar, caro leitor. O caminho até o sobrado em que seus pais moravam havia um longo terreno baldio permeado de bananeiras. À noite, passar por tal trecho era algo de dar medo: as folhas balançavam com qualquer vento e faziam o barulho de pessoas se espreitando. As plantas projetavam sombras humanas, com mãos que se moviam para todo lado. O luar era a única fonte de luz numa Cabedelo, cidade portuária da Paraíba, da década de 1960. Imagine que iluminação pública não era uma prioridades naquela época.

A menina respirou fundo. Olhou ao longe sua casa. Olhou pra trás o caminho que dava na zona portuária, antro de marinheiros e prostitutas, onde o dindo e a dinda trabalhavam. Não havia outra forma. Respirou fundo e saiu correndo com olhos semicerrados para atravessar o bananal.

            Foi de encarar o medo a todo custo que a menina cresceu. Trabalhou desde muito jovem em casa de família. Ganhava pouco… Corria ao sair do trabalho para pegar a escola noturna. O cansaço não deixou que ela progredisse muito mais que o ensino fundamental. O sonho de conhecer o mundo e uma vida confortável a tirou do solo paraibano ainda menina aos 17 anos para morar junto com um namorado de conduta duvidosa, tão carinhoso como seu padrinho e tão ausente como seu pai de sangue nos primeiros anos de convívio.

            Vendeu enfeites no carnaval. Bolo na fila do ônibus. Bolsa e camisa na época que Ipanema e Copacabana eram repletas de camelôs, isso na década de 80. Teve filho aos dezoito. Não tinha com quem deixar, levava sempre o filhinho consigo. Não tinha onde colocá-lo pra dormir, arrumava sua cama, seu berço improvisado, numa mala aberta dentro da barraca na qual vendia adereços para os gringos que curtiam o litoral carioca.  Em casa, se o bebê chorava, o pai não se levantava, dormia. E ela, a noite inteira fazendo máscaras de carnaval com a criança entre as pernas. E assim a menina que encarou o bananal de olhinhos chorosos de medo, encarava os abacaxis da vida. Era um exército de uma mulher só contra o mundo. Fazia jus a canção: “Paraíba masculina, mulher macho sim senhor…”

            E mais dois filhos vieram. O alcoolismo do marido. As agressões. Traições veladas. O choro nas noites por ter dedicado o amor a um sonho de marido que a decepcionava. Provações e mais provações. E as sombras e os olhos que semicerrados enfrentavam tudo. O divórcio era inevitável. Logo ela que sonhava o “felizes para sempre”. Filhos criados. Encontrou neles o amor que não recebera e que de bom grado resolveu doar a eles e ao mundo.

            Agora ela espreita devagarzinho. Sem acender a luz do quarto. No silêncio do quarto, duas camas: numa seu netinho, ainda muito jovem e que ela cria com amor, já que seu filho mais jovem não o assumira; no outro o garoto que dormia na mala, na cama ao lado da sua. Ela dá um beijo de boa noite.

            Sinto o beijo e fico calado. Finjo que durmo. Não destruo a magia do momento.

            Desculpe… A história também é minha.

FIM
(da crônica)

Uma homenagem a minha mãe em 07 de dezembro de 2011


SILVA, M. Beijo noturno. In “Caminho Poético”. 05 de julho de 2016.


QUESTÃO ÚNICA

Após a leitura da crônica responda às seguintes questões:

  • Qual é a quebra de expectativa que aparece na narrativa de “Beijo Noturno”? Explique com suas palavras.
  • Mostre um ponto positivo e um ponto negativo na história narrada na crônica. Justifique seus posicionamentos.

5 comentários em “BEIJO NOTURNO (EXERCÍCIO DE ARGUMENTAÇÃO)

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  1. rayane:01) A quebra de expectativa de “Beijo Noturno “ é que a menininha tinha o sonho de conhecer o mundo e uma vida confortável a menininha teve filho aos dezoito e não tinha com quem deixar, levava sempre o filhinho consigo para todo lugar que iria , portanto em não pensar nas consequências que ela iria ter em sua vida , ela sofreu bastante durante sua vida .

    02)o ponto positivo da história é que ao decorrer dos anos seus filhos já estavam grandes e criados e ela pode perceber que o carinho e amor que eles davam para ela , ela não recebia.

    O ponto negativo na história é que seu marido era muito agressivo com ela e traía , isso é horrível, porque além dela passsar tudo isso que percorreu em sua vida , as dificuldades, ela trabalhava para sustentar seus filhos .

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  2. Rebeca Nakamura.(1) A quebra de expectativa foi que a menina morava com os padrinhos e arrumou um marido que não dava valor a ela.

    (2) O ponto positivo foi que ela mesmo com dificuldades conseguiu criar seus filhos.

    (3) O ponto negativo foi que ela não conseguiu terminar seus estudos teve um relacionamento abusivo.

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  3. 1- No começo eu achava que seria uma história um pouco romântica so que na verdade não era nada que eu pensava.

    2-o ponto positivo foi que a “menina” menos com traumas ela continuava trabalhando

    o ponto negativo foi o “namorado” dela que parecia ser uma boa pessoa ela se casou com ele nova e no final ele não era nada que parecia

    Yasmim 9°

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  4. Luciana:

    01)A quebra de expectativa é que a menininha achou que teria um final feliz,só que não foi assim.

    02) O ponto positivo foi que a mulher mesmo não tendo o apoio de seu marido ela continuou lutando para cuidar de seus filhos e nunca deixou de dar amor e carinho para eles.

    O ponto negativo é que ela sempre teve que cuidar do seus filhos sozinha,Porque seu marido era ausente e traia e agredia ela.

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  5. julia: 01) A quebra de expectativa de “Beijo noturno” é que a “garotinha” queria ganhar o mundo porém não foi assim casou e teve filho muito nova e consequentemente sofreu muito ao decorrer de sua vida.

    02) o ponto positivo na história na história é que a mulher depois de ter seus filhos criados ela encontrou neles o amor que não recebera, isso é muito legal pois ela recebeu o carinho que nunca teve.

    O ponto negativo na história é que seu marido era ausente, agressivo e ainda a traía. Isso é muito triste pois além dela ter que passar todo o sufoco de ter que trabalhar e levar seu filho junto ela ainda sofria com agressões e traições da parte de seu marido

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