O MITO DE ADÔNIS (Ἄδωνις)

A lenda de Adônis, de origem oriental, conta que a jovem Mirra (ou Esmirna), filha do rei Teias da Síria, instigada por Afrodite, a deusa da primavera e do amor, tramou com sua ama meios de unir ao próprio pai, sem que este soubesse quem era ela. Na décima segunda noite, porém, o rei a fraude e, horrorizado, investiu contra a filha para matá-la. Mirra invocou a proteção dos deuses e conseguiu fugir ao castigo de seu crime, transformando-se em um arbusto, a mirra.

Dez meses depois, o troco do arbusto fendeu-se e revelou a existência de uma criancinha tão linda, que a própria deusa Afrodite encantou-se pelo menininho e, não podendo cuidar dele, entregou-o à deusa do Hades, Perséfona, soberana do mundo subterrâneo dos mortos. Adolescente, Adônis passou a ser disputado pelas duas deusas, ambas apaixonadas por sua beleza; então Zeus Olímpico, o soberano supremo do mundo divino, resolveu o conflito determinando que o jovem passasse um terço do ano sob a terra, com Perséfona, um terço à luz do dia com Afrodite e o outro terço do tempo como lhe aprouvesse. Mas Adônis preferiu passar os dois terços do ano com Afrodite, o que confere a essa lenda uma ligação simbólica com o mistério da vegetação, que morre e se renova, periodicamente, todos os anos.

“The Awakening Of Adonis” por John William Waterhouse

O tempo acrescentou peripécias e a aventuras à lenda de Adônis, até ocorrer sua morte trágica, durante uma caçada em que foi atingido por um javali furioso, enviado por Ares (o Marte dos Romanos), o deus da guerra, enciumado com as atenções que Afrodite dispensava ao belo jovem.

A morte de Adônis deu origem a ritos religiosos orientais, em cerimônias fúnebres prestadas na data em que era comemorada, ocasião em que as águas do rio Adônis, que corria em Biblos, na Fenícia, ficavam avermelhadas.

Mitos florais também ficaram ligados à morte de Adônis, como o das rosas que, inicialmente brancas, tingiram-se com o rubro sangue de Afrodite, que se picara nos espinhos ao tentar socorrer sem bem-amado. Outros contam que as lágrimas da deusa, chorando Adônis, transformaram-se, uma a uma, em rosas rubras e, de cada gota de sangue derramado por, surgiu uma anêmona.

Afrodite e Adônis. Lekythos Ático de figuras vermelhas, 410 a.C.

O culto de Adônis difundiu-se pelo Mediterrâneo, no período helenístico, criando-se, desde cedo, porém, o hábito de plantar sementes em caixas, regando-as com água quente, para brotarem mais depressa. As plantas assim cultivadas (como refere-se Sócrates, no Fedro de Platão) duravam pouco e secavam rapidamente e esses “jardins de Adônis”, como eram chamados,  simbolizavam a vida breve e trágica do personagem.  Seu ritual incluía lamentos femininos, invocando o trágico destino do jovem, cujo nome se prende a uma raiz hebraica, que significa “senhor”. A presença do mito de Adônis, em espelhos etruscos, prova sua popularidade, desde tempos remotos.


HORTA, G.N.B. Adônis (Ἄδωνις). In Calíope – Presença Clássica. Rio de Janeiro: Departamento de Letras Clássicas, Faculdade de Letras, UFRJ. Julho/dezembro 1984. Ano I, número 1.


FONTE: https://revistas.ufrj.br/index.php/caliope/issue/view/1511

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