DEUSA ATENA (Ἀθηνᾶ)

Ela era a deusa da inteligência, a virgem rival de Afrodite, a guerreira de bravura calma e refletida, a guardiã da cidade de Atenas, pela qual velava no alto da acrópole.

É sobretudo por essa vigília que ela protegia e sua solicitude era testada pelos jovens que a veneravam durante a festa do registro dos efebos em sua fratrias (Ἀπατουρία); nela, os participantes usavam amuletos de ouro em sua honra.

Cuidadora da saúde de seu povo, ela, sem ser propriamente uma deusa agrária, favorecia a fertilidade. Pois foi ela quem criou a oliveira e, juntamente com seu venerável pai, Zeus, Atena protegia essa árvore contra as intempéries e devastações dos homens: a oliveira era, para os antigos helenos, o símbolo da paz e da prosperidade que a deusa dispensava.

Atena era também a inspiradora de diversas τέχναι, desde a arte de tecer e bordar até às artes do fogo. Sob sua inspiração, os homens construíram, por exemplo, a nave Argos, e Epeios fez o cavalo de madeira usado na guerra de Troia: lutaram e saíram vitoriosos, pois todo devoto de Atena era dito “servidor de Atena” ou “protegido de Atena”. Por seu intermédio chegava-se a vitória. Platão concedeu-lhe o nome de Θεονοή (Theonoé) – a inteligência divina – reconhecendo-a como a inspiradora das mais altas criações do espírito humano.

Atena combatendo Encélado, pintura em prato grego, c. 525 a.C. Museu do Louvre

A terminação do nome Ἀθηνᾶ (*-ana, – ηνᾶ) parece pré-helênica; a suposição poderia ser confirmada pelo fato de que, em uma sociedade patriarcal como a dos helenos, Atena era divindade feminina guerreira. Havia, antes da chegada dos helenos à Península Balcânica, o culto de uma certa divindade feminina no Egeu, guardiã dos palácios dos reis. Em Cnossos, foi encontrado um palácio construído por volta de 1500 a.C., com uma inscrição referente a uma certa Atana potinija, o que prefigura o epíteto hesiódico πότνια Ἀθηναίη (augusta Atena).

O culto helênico de Atena estendeu-se a todas as regiões conquistadas e colonizadas pelos gregos. Foram encontrados diversos santuários a ela dedicados nas colônias gregas da Ásia Menor, na Líbia, nas ilhas do Egeu e em diversos pontos da Península Balcânica.Os mitos e os epítetos que lhe foram atribuídos ilustram o grande papel que a deusa exerceu na vida dos antigos gregos: Παλλάς (Pallás), a virgem, Ἀρεία (Areía), guerreira, Νικηφόρος (Nikefóros), vitoriosa, Σώτειρα (Sóteira), preservadora da saúde e da liberdade, Ἐργάνη (Ergáne), trabalhadora, Τριτογένεια (Tritogéneia), tritogênia, isto é, nascida no terceiro dia da cabeça de Zeus, portanto, a verdadeira filha de Zeus. Sua referência zoomórfica é a coruja.

Releitura Moderna

Entre os vários mitos ligados a Atena, ressaltamos o de seu nascimento. Hesíodo conta que Atena era filha de Μῆτις (Métis), da Prudência, primeira mulher de Zeus. A conselho de Urano e de Gaia, seus pais, Zeus engoliu a própria esposa, quando estava a ponto de dar à luz. Ao tempo do parto, Zeus ordenou a Hefesto que rompesse sua cabeça com um só golpe e dela saltou Atena, inteiramente vestida e armada – com elmo, escudo, espada e couraça de pele de cabra. O lugar de seu nascimento é designado como lago Tritão e está situado na Líbia. A lança e a égide (a couraça) são seus símbolos guerreiros, atributos que lhe valeram lugar de destaque no mito da luta contra os Gigantes, γιγαντομαχία, como diz Hesíodo, e na luta do aqueus contra os troianos, como nos diz Homero. Segundo Homero, Atena foi ativa protetora de Diomedes, Ulisses e Menelau, o esposo de Helena. Na Ilíada, as troianas também a veneravam, surgem cultuando-a frente a sua estátua gigantesca que dominava o centro de uma sala.

Mas, o príncipe Páris, belo troiano, negou-lhe o prêmio, na disputa com as deusas Hera e Afrodite. Diz o mito que, durante os festejos do casamento de Tétis e Peleu, pais de Aquiles, Éris (a Luta, a Discórdia) lançou um pomo de ouro entre os deuses, proclamando que ele devia ser outorgado à mais bela de todas as deusas. Páris foi nomeado por Zeus como juiz. Cada uma das três deusas defendeu o título a seu modo: Hera prometeu-lhe o poder supremo sobre os reinos da Ásia, Atena prometeu-lhe o dom eterno da sabedoria e da vitória em todos os combates; Afrodite prometeu-lhe o dom de irrestível sedução, o dom de conquistar o amor de Helena de Esparta, a mais bela das mulheres. Afrodite recebeu o prêmio e Atena, por isso, na guerra contra os troianos, tomou o lado dos helenos. Diz-se que Héracles, sabedor do fato,  ofereceu-lhe os pomos de ouros das Hispérides, em desagravo, e combateu ao lado da deusa contra os Gigantes, o que lhe valeu a gratidão da deusa.

Protetora dos Aqueus, Atena ajudou Ulisses a regressar a Ítaca, intervindo por diversas vezes em seu auxílio e de seu filho, Telêmaco, através de metamorfoses. Concedeu a Ulisses o dom de uma beleza tão irresistível que levou a princesa Nausica a interceder a seu favor na obtenção de navios para a viagem de volta. Tais ajudas a Héracles e a Ulisses representam a vitória da inteligência e da razão sobre as forças brutas irracionais.

Versão do anime “Saint Seiya”.

Atena, nos mitos gregos, apesar de aparecer como protetora das artes e das letras, tem muito mais que haver com a filosofia do que com a  poesia ou a música. Como deusa da atividade inteligente, ela aparece nos Trabalhos e os Dias ao lado de Hefestos, criando, por ordem de Zeus, a primeira mulher, Pandora, enfeitando-a cuidadosamente com os presentes recebidos de cada um dos deuses olímpicos. Sua engenhosidade e espírito guerreiro, diziam helenos, levaram-na a criar a quadriga e o carro de guerra.

A grande deusa inventou a oliveira, por ocasião de uma disputa com seu tio Poseidon. Poseidon, com um golpe de tridente, criou um lago salgado na acrópole de Atenas,  e assim mostrou o seu poder. Mas Atena, tendo criado a oliveira, foi vencedora. Ofereceu sua criação à Ática, como gratidão pela vitória; daí a deusa ter sido proclamada soberana de Atenas. Em diversas cidades foi venerada como deusa protetora e o roubo de sua estátua (Palládion) do palácio de Troia, praticado por Ulisses e Diomedes, foi causa da queda definitiva de Troia.

Atena era virgem, mas teve um filho. Conta-se que ela fez uma visita à forja de Hefestos, que, abandonado por Afrodite, perdeu-se de amores por Atena. A deusa conseguiu fugir a seus assédios , mas acabou tropeçando e caindo em seus braços. Antes de desvencilhar-se , foi atingida em uma perna por uma ejaculação de Hefestos. Desgostosa, secou-se  com um pano e atirou-o sobre a Terra que, assim fertilizada, deu à luz Erictônio, que Atenas reconheceu como filho e que foi um dos primeiros reis de Atenas.

A virgem Atena era sempre representada com a lança, o elmo e a égide, seus atributos. Sob seu escudo fixava-se a cabeça da Górgona Medusa, que lhe fora ofertada por Perseu. Dessa forma, Atena também podia petrificar a todos a quem mostrasse a cabeça.

Descrita nos mitos como a deusa dos olhos verdes e luminosos, parece mais suntuosa, majestosa do que bela, mais calma, prudente e inteligente do que dominadora. Atena simbolizada pela coruja e pela oliveira.

Minerva é o nome da deusa da inteligência romana. Não parece ter pertencido às mais antigas divindades romanas, pois surgiu na Etrúria. Entretanto, integrava a tríade capitolina, ao lado de Júpiter e de Juno, nome dos deuses correspondentes a Zeus e Hera. Um de seus mais antigos templos estava situado no monte Caelius, o templo de Minerua Capta. A tradição concedia a Numa o dom de ter introduzido Minerva em Roma. Seus atributos eram análogos aos da deusa Atena, mas em Roma era principalmente a deusa protetora dos jovens estudantes, presidindo todas as atividades intelectuais. Minerva não apareceu em nenhum mito propriamente romano, apesar de estar presente nos mitos de Nério e de Ana Perena.


STARLING, Maria Adília P. de Aguiar. Palas Atena (Παλλὰς Ἀθηνᾶ) – Minerva. In Calíope – Presença Clássica. Rio de Janeiro: Departamento de Letras Clássicas, Faculdade de Letras, UFRJ. Janeiro/junho 1987. Ano IV, número 6.


FONTE: https://revistas.ufrj.br/index.php/caliope/issue/view/1516

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