I – SINOPSE
Após três anos atrás das grades, Shadow Moon está prestes a ser libertado e pronto a retornar a sua vida de homem casado. Mas a há poucos dias de sua liberdade, depara-se com a notícia estarrecedora da morte de sua mulher em circunstâncias, no mínimo, estranhas. Sem esperanças, rumo ou trabalho, acaba por se associar a um homem misterioso: Wednesday. O velho trapaceiro caolho parece conhecer muito mais da vida do grandalhão Shadow do que deixa transparecer.
Assim a dupla embarca em uma viagem de carro pelos recantos mais sombrios dos Estados Unidos com a missão de buscar aliados entres deuses antigos para uma guerra que se anuncia. Novos deuses, forjados pela sociedade moderna, almejam suceder e derrotar as velhas crenças e monopolizar a fé americana. Nessa jornada, Shadow Moon descobrirá que seu destino está muito mais ligado aos deuses do que ele julgava. É assim que começa a luta dos deuses contra o esquecimento e pela sobrevivência das velhas tradições. Então, que se faça a guerra!

Título original: American Gods
Autor: Neil Gaiman
Tradução: Leonardo Alves
Gênero: Romance estadunidense.
Editora e ano: Intrínseca, 2016.
Páginas: 576
Referência bibliográfica: GAIMAN, N. Deuses Americanos. Rio de Janeiro: Intrínseca, 2016.

II – PERSONAGENS: ENTRE HUMANOS, VELHOS E NOVOS DEUSES (SPOILERS)
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1. SHADOW MOON (protagonista): Ex-detento, de passado nebuloso, que pretende retomar sua vida tendo se arrependido de seu crime e disposto a uma vida nova. Acaba, devido a tragédia de sua esposa, tornando-se guarda-costas de um misterioso e velho trapaceiro, Wednesday, um antigo deus nórdico. |
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2. LAURA MOON: Esposa de Shadow, mulher forte e sensual, que acaba morrendo poucos dias antes da saída de seu esposo da prisão. No entanto a esposa-cadáver recusa-se a ficar morta e está disposta a seguir a luz de seu marido acima de qualquer consequência. |
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3. SENHOR WEDNESDAY: o grande deus nórdico Odin, o pai de todos, que contrata Shadow como leão de chácara (segurança) após a morte de sua esposa. Ele anseia reunir os velhos deuses para formar um frente forte contra os novos deuses. O trapaceiro se aventurará pelas estradas estadunidenses recrutando aliados para sua causa. |
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4. CZERNOBOG: é o deus eslavo da escuridão, irmão gêmeo de Bielebog, deus da luz. É um velho rabugento, de poucos amigos e viciado em jogar damas apostando a vida de seus adversários na base da marreta. Passa a maior parte do tempo com as irmãs Zorya e é uma das peças fundamentais no jogo de poder de Wednesday. |
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5. IRMÃS ZORYA: Parentes de Czernobog, são as deusas Zorya Utrennyaya (Estrela da Manhã), Zorya Vechernyaya (Estrela da Noite) e Zorya Polunochnaya (Estrela da Meia-Noite). Enquanto a duas primeiras são realmente deusas do panteão eslavo, a última é uma criação de Neil Gaiman para a trama. Elas são as vigias para que não aconteça o dia do julgamento quando o cão Simargl, devorará o mundo. É Polunochnaya que ajudará Moon sobre seu papel na trama. |
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6. SENHOR NANCY: deus Anansy, uma velha aranha trapaceira das lendas africanas. Torna-se grande amigo de Shadow em seu processo de autoconhecimento. Por mais que sua origens sejam dúbias, é o mais ponderado dos deuses e responsável pela diplomacia em oposição a insensatez de Wednesday. |
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7. MAD SWEENEY: Suibhne, um rei Leprechaun de uma lenda irlandesa, não é tão nobre assim na trama de Neil Gaiman. Em Deuses Americanos é um velho alto e bêbado que manteve negócios secretos com o senhor Wednesday com estreita ligação com os acontecimentos recentes da vida de Shadow Moon. Briguento e portador de uma moeda mágica, fará com que de forma indireta faça ressurgir o passado do ex-detento que ele julgava morto. |
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8. EASTER: a deusa da primavera. Seus culto identificado com a Páscoa ainda a torna uma mulher jovem e com bastante poder na trama. Outra engrenagem importante para os planos de Odin, será aquela responsável por guiar Shadow em seu processo de uma vida nova. |
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9. OS DEUSES EGÍPCIOS: Fazem sua aparição na trama na figura do senhor Jacal (Anúbis) e senhor Íbis (Tot) a frente de uma funerária na cidade de Cairo, Illinois. Abrigada sobre o mesmo teto está a sensual e felina Bastet. Acolhem Shadow Moon durante um período da narrativa enquanto Wednesday some. Tais deuses, junto com Hórus, serão os guias de Shadow em sua jornada interior e em sua segunda vida. |
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10. OUTROS VELHOS DEUSES: Há ainda uma série de entidades que marcam presença na história e que contribuem de forma sensível para o desenrolar da trama. Entre os múltiplos deuses cabe lembrar de Low-Key Liesmith (Loki), cuja importância se mostra nos desfecho; Bilquis, a Rainha de Sabá e seu culto sexual, que e uma das primeiras a cair; o deus indígena Wisakedjak e até um kobold (goblin) das lendas germânicas. |

11. OS NOVOS DEUSES: Fica claro ao logo da trama que deuses nascem e perecem com muita facilidade nos tempos modernos. Eles são os inimigos (antagonistas) dos velhos deuses em sua luta pelo monopólio da fé em Deuses Americanos. Assim destaca-se na trama o Garoto Técnico, um gordinho adolescente e cheio de espinhas que é a personificação da Internet e que se veste como hacker de Matrix. Acredita piamente na morte de tudo que é velho e a formação de um novo paradigma.
Noutro expoente encontra-se a deusa Media (mídia) que materializa personagens famosos do cinema e da TV, como também de outros meios, que manipula sua audiência ao se reinventar constantemente.
E claro, acima de todos está o Senhor World, a materialização da Globalização, da espionagem e da conspiração que povoa o imaginário dos
Estados Unidos repleto de Homens de Preto, alienígenas tramas nos bastidores do poder. É o líder dos novos deuses e que parece estar sempre um passo a frente de seus adversários.
Há ainda o Intangível, o deus do dinheiro e da movimentações e especulações financeiras. É a mão invisível do mercado e que está pouco interessado nos conflitos, pois prevalecerá não importa o lado vencedor.

III – ESTRUTURA DO LIVRO (sem spoilers)
O romance é escrito em 3ª pessoa, ora um narrador observador geralmente nas partes do enredo em que Shadow Moon protagoniza; ora narrador onisciente (o narrador-deus que conhece cada segredo desde os pensamentos aos segredos da narrativa). O estilo da escrita de Neil Gaiman é fluído e quase cinematográfico e isso se dá, claro, por sua vasta experiência no mundo dos quadrinhos. Então você não terá uma leitura detida (em que se para e analisa filosoficamente antes de continuar), mas também não chega a ser um fast-food sem nada a acrescentar. É uma leitura prazerosa porque nos exige pouco da compreensão e em parte o mérito também é do bom trabalho de tradução de Leonardo Alves.
A descrição, que é um grande pesadelo para muitos leitores, é daquelas feitas por pinceladas suaves e sem sacrificar a dinâmica da história. Assim, mesmo que de forma leve, o leitor conhece muitas localidades americanas e deuses de forma bem sutil. Aliás, tentar adivinhar quem é quem entre os deuses pode ser uma tarefa bem divertida (se você não leu nenhum spoiler, claro).
O romance possui 20 capítulos dedicados a saga de Shadow Moon e aos acontecimentos da guerra divina, divididos em quatro partes: 1. Sombras (ou escuridão?) que trata do passado recente de Shadow e do obscuro Senhor Wednesday; 2.Ainsel, eu mesmo, na qual Shadow fica escondido na pequena cidade de Lakeside; 3. O momento da tempestade, na qual se dá os acontecimentos mais esperados da narração; e 4. Epílogo: Os mortos escondem alguma coisa que fecha muitas pontas soltas da história.
No entanto existem outros capítulos que acabam por narrar a chegada do velhos deuses aos Estados Unidos. O foco narrativo (ou autor) é o senhor Íbis (o deus egípcio Tot), como podemos inferir durante a narrativa principal de Moon e Wednesday. Tais capítulos estão espalhados pelas três primeiras partes e são muito reveladores. Além disso há outros que mostram subtramas, interlúdios e acontecimentos que variam de uma visita a um personagem ao assassinato de um deus. Tudo cuidadosamente organizado e que são peças importantes para a trama central.
IV – O ENREDO (SPOILERS)
Falaremos de forma global de cada parte da estrutura narrativa e que termina por serem equivalentes as quatro momentos do livro. Essa visão segmentada da trama torna o livro bem próxima a estrutura clássica de um texto narrativo, de um romance. Abaixo uma síntese de cada um desses momentos. Cuidado que há revelações desnecessárias para quem ainda não leu o livro, portanto pule próxima sessão se não quiser estragar a surpresa.

1. SITUAÇÃO INICIAL – SOMBRAS
O início da história nos deparamos com a expectativa de Shadow Moon de ser novamente um homem livre depois de ter sido preso por causa de uma golpe frustrado. Tem na companhia de Low-Key, o melhor alento no meio disso tudo. Mas às vésperas de sua soltura, recebe a notícia da morte de sua esposa em um acidente de carro junto com seu melhor amigo. Já solto, desenganado e retornando a sua cidade natal, conhece o velho Wednesday no avião. Aos poucos o homem rabugento vai fazendo amizade com Moon e terminam dividindo carro e indo para mesma cidade.
A partir daí, uma série de acontecimentos que fogem a compreensão de Shadow começam a vir à tona: sua esposa ressuscita, uma morto-vivo, e ele se torna segurança de Wednesday em sua viagem insólita após uma aposta com um Leprechau. Aos poucos descobrirá que tanto a morte de Laura como seu papel na vida do velho trapaceiro não são meros acasos.
Wednesday é Odin, o pai dos deuses nórdicos, que se prepara para uma guerra contra os novos deuses: conceitos e abstrações idolatradas pelo homem moderno que vai desde a Internet ao dinheiro. Odin e os demais deuses lutam para sobreviver por meios das migalhas de fé, afinal os antigos cultos e crenças estão quase mortos. No entanto, essa revelação é feita aos poucos, mas óbvio que se você aprecia mitologia, isso se torna claro muito rápido pois a palavra Wednesday é, literalmente, “dia de Odin”.
Também Shadow é assolado por sonhos que parecem conversar com ele. Cada viagem onírica lhe traz pequenas revelações. Parece que o detento grandalhão tem mais ligação com os deuses que nossa suposição inicial. Isso ainda se confirma tanto pela indiretas dos outros deuses que Odin tenta recrutar para batalha, como também na tentativa do novo deuses, como o Garoto Técnico e o Senhor World de ora tentar fazê-lo mudar de lado, ora assassiná-lo.
Depois de cruzar os EUA, passar uma temporada na funerária dos deuses egípcios, o senhor Íbis e o senhor Jacal, e conhecer os “bastidores”, onde os deuses revelam sua existência metafísca, Shadow precisa permanecer escondido. Mas é preciso um lugar fora do radar, no qual Moon possa ficar como uma peça pronta a ser usada, visto que sofreu duas vezes com atentados dos novos deuses e teve ajuda de Laura para se salvar.

2. COMPLICAÇÃO – AINSEL, EU MESMO
Depois de meses na estrada, sem ter o prazer de uma vida simples e sem complicações, Wednesday esconde Shadow na friorenta e próspera cidade de Lakeside. Sem nenhuma tecnologia, visto que os novos deuses são capazes de rastrear seus inimigos assim, e sob nome de Mike Ainsel, o ex-detento pode, enfim, ter uma vida comum. Faz amigos como o velho Hinzelmann, o delegado Chad Muligan e reencontra um flerte, Samantha Crow.
Volta e meia é convocado por Wednesday para alguma viagem em busca de novo aliados. Nesse meio tempo, sua visões se intensificam e Shadow começa a dialogar e interpretar seus sonhos. Também a cidadezinha é abalada pelo desaparecimento de uma adolescente em circunstâncias misteriosas, algo comum em todo ano e sob os mais diversos pretextos.
No entanto, o esconderijo de Shadow é descoberto pela suposta coincidência de uma mulher de sua cidade natal dar as caras em Lakeside e acusá-lo de assassinar e de ser procurado pelo FBI (na verdade capangas do Senhor World). Assim a estadia pacífica de Shadow tem seu fim. Ele resgatado pelo Senhor Nancy, o deus aranha, e Czernobog, deus polonês da escuridão, aliados de Odin. Isso porque o velho deus não pode ir resgatar Moon de Lakeside: foi a um encontro com os novos deuses para negociações.
Contudo, transmitido pela televisão, em uma cortesia da deusa Media, vemos Odin ser assassinado com um tiro na cabeça. Isso abala todos os velhos deuses: a guerra começou de forma trágica. É preciso resgatar o corpo de Pai de Todos e lhe dar um enterro digno. O trio parte então para o centro EUA, um lugar neutro, e encaram os novos deuses. É um encontro diplomático mais revelador, como também é a última trégua antes da batalha final.
Esta parte da obra fecha com os ritos funerários em torno do corpo de Odin e de Shadow se oferecendo como tributo: ficar na forca por nove dias para honrar o defunto. Enquanto isso, motivados pela morte do Pai de Todos, velhos deuses se unem para a sangrenta batalha. Uma união que só foi possível por causa do sacrifício de Odin.

3. CLÍMAX – O MOMENTO DA TEMPESTADE
A penúltima parte do livro é marcada por acontecimentos sobrepostos e cheio de reviravoltas. Em um primeiro plano temos a jornada espiritual de Shadow. Ele está no limiar da morte. Sofre uma iniciação feita pelos deuses que cruzaram seu caminho: Tot, Anúbis, Bastet, entre outros. É preciso que ele renasça. Seu papel nos acontecimentos é importante demais, afinal ele é filho de Odin. Sim, isso mesmo. Exposto ao frio, ao rigor do tempo, Shadow viaja no outro mundo em uma jornada de autoconhecimento para entender o que ele é e seu papel.
Enquanto isso, Laura Moon, após velar pelo corpo de Shadow, bebe das águas do Lago da Memória e descobre seu papel no conflito dos deuses. Intercepta Town, que trabalha para o Sr. World, e que possuía a incumbência de pegar um galho da árvore de Odin, aos pés da qual o deus estava sepultado e onde Shadow jazia enforcado. Juntos, Town e Laura vão ao encontro de World. A esposa-cadáver está pronta a fazer tudo por seu marido e surpreende ao leitor com sua perspicácia.
Por, é claro, os preparativos e a guerra dos deuses começam. Há mortes e baixas de ambos os lados. No entanto Shadow, ajudado por Hórus e Easter, consegue voltar ao mundo dos vivos e vai ao encontro do Senhor Word. Em uma caverna descobre que Odin tramara todo o conflito para que a morte dos deuses fortalecesse seu corpo e seu culto. Contou com a ajuda do deus da trapaça, Loki que Shadow conheceu como Low-Key Smith na cadeia. Loki se passava pelo Senhor World o tempo todo e tramou com seu pai todo o conflito. Enquanto a batalha ocorria, Odin cada vez mais se materializava e ficava forte. Loki, por sua vez, estava entre a vida e a morte: Laura quase o matara. Assim cabe a Shadow parar uma batalha épica antes que todas crenças e deuses morram e somente Odin exista.

4. DESFECHO – EPÍLOGO: OS MORTOS ESCONDEM ALGUMA COISA
Após a batalha dos deuses, restam duas questões a serem respondidas. Uma são os misteriosos desaparecimentos em Lakeside. Depois de passar um tempo com senhor Nancy, Shadow tem uma epifania de onde estaria a menina desaparecida. Assim retorna à cidade para verificar seu palpite. Todo ano a cidade colocava um carro no meio do lago e apostavam em que momento (dia e hora) do degelo o carro afundaria. Fazia parte da tradição. No entanto no porta-malas do carro, à vista de todos, carro que ninguém chegava perto por medo de acabar no fundo do lago, estava a criança morta. Isso acontecia todos os anos. O responsável? O velho Hanzelman, um kobold, uma entidade germânica que habitava cidadezinha e a fazia prosperar. E logo ele que se convertera em uma grande amigo de Shadow. Acaba morto pelas mãos do delegado Muligan no final das contas.
A segunda é se Shadow ficaria com Samantha Crow, a bela jovem universitária que dera carona e com quem confraternizara em Lakeside, já que Laura finalmente morrera de vez. Mas ela já tinha um amor para chamar de seu, uma jovem namorada. Assim o herói não ficara nem com Laura nem Samantha. Permanece na estrada sozinho.

V – CURIOSIDADES
1. POSFÁCIO – Odin morrera? Sim e não. Pelo menos a versão estadunidense, sim. Shadow encontra o pai na Islândia e fecha o ciclo de sua origem. Não sabemos com que deus o herói se identificaria. Tudo leva a crer em Baldur, mas nem o próprio Neil Gaiman não confirmou essa hipótese e as semelhanças são muito sutis e pouco conclusivas.
2. E JESUS? Bem, foi colocado e retirado da trama algumas vezes. O autor deixa isso claro qua talvez esse encontro não faça parte de Deuses Americanos, mas de eventos futuros, pois pretende ainda escrever outras aventuras de Shadow. Mas a edição tem o manuscrito com essa parte da história, mas Gaiman aconselha: “Considere esta uma cena apócrifa, talvez”. A menção bíblica mais próxima na obra é a Rainha de Sabá, na figura de Bilquis.
3. DEUSES GREGOS – Quando se fala de mitologia, não tem como não pensar na Grécia. Mas o foco de Neil Gaiman são os mitos anglo-saxônicos e aqueles fora do cânone. Temos a presença de Hefesto, deus ferreiro, e de, talvez, as parcas, mas são papéis secundários em Deuses Americanos.

VI – O AUTOR
Nascido em Portchester, Hampshire (Inglaterra), é romancista, contista e roteirista de quadrinhos, TV e cinema. É muito reconhecido por seus trabalhos em Sandman, cujo personagem principal é Morfeus, deus grego do sonhos, e que virará série pela Netflix. No entanto tem, ainda, passagens diversas editoras como em histórias da Marvel (1602) e da DC comics (O que aconteceu ao Cavaleiro das Trevas?).
Neil Gaiman constantemente flerta com outras mídias. Seu primeiro romance Good Omens (1990), assim como Deuses Americanos virou série de TV pela Amazon. No entanto, o autor possui adaptações de suas obras para o cinema como Stardust (1999) e Coraline (2002). Possui um trabalho muito expressivo como roteirista de cinema (Princesa Mononoke, 1997) e de TV como em roteiros de Babylon 5 e Doctor Who. Ou seja, um verdadeiro ninja!

VII – CONCLUSÃO
O meu primeiro contato com o estilo Neil Gaiman de se expressar fora os quadrinhos de Sandman. Nunca finalizei a leitura de toda a obra por dois motivos básicos: conheci muito tardiamente e, depois, por não ter dinheiro para adquirir. Agora, enquanto digito essas linhas, a terceira edição da coleção comemorativa de 30 anos espera minha leitura. No entanto meu primeiro contato foi com o romance Coraline, pois queria utilizá-lo como livro paradidático. O livro é tão amplo que tive que abdicar de usar em sala por dois motivos: a profundidade da trama e uma administração escolar religiosa.
Desta forma minha surpresa com Deuses Americanos e depois com Good Omens foi saber que eram derivados de obras do Neil Gaiman. Enquanto a saga de Shadow Moon, em sua primeira temporada, despertou meu interesse para a leitura deste livro; o segundo ainda me é desconhecido tanto na TV como na escrita. Espero resolver esse problema em breve.
O mérito de Deuses Americanos é transformar a viagem de Shadow e Wenesday pelas estradas estadunidenses em uma viagem pela cultura mitológica, mesmo que pouca aprofundada, afinal é um romance e não uma obra acadêmica. A dinâmica do enredo escrito de forma leve fará com que o leitor vença as mais de 500 páginas sem dificuldade e se apegue ao protagonista mais do que aos deuses. E isso é talvez a maior sacada do livro: a reflexão de nosso papel em relação a ser um joguete de forças superiores que fazem o que quiser da humanidade. Esta humanidade que é divina e nela nós devemos crer.
O segundo ponto é que a força que damos aos seres divinos é baseado em uma questão de fé e que a todo momento elegemos ídolos e esquecemos a base cultural da história humana. O irreal só se torna real porque acreditamos, simples assim. O que escolhemos venerar, também acabará por nos julgar, ou o tempo o fará apagando tudo para sempre. E é a mistura difusa de crenças que a sociedade moderna se baseia, como a certo momento a personagem Samantha Crow expõe para Shadow Moon.
Assim a leitura de Deuses Americanos de Neil Gaiman além de divertir, sutilmente insere a reflexão de nossa relação com Deus ou deuses. Aliado a seu histórico como autor de quadrinhos, acaba por passar ao leitor que uma aventura sobre termos mitológicos não precisar ser simplesmemente uma história de fantasia, afinal o mito não passa das crenças que saíram de moda. Acredite, creia, leia!
AVALIAÇÃO NINJA!
Muito divertido e vale a leitura!











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